sexta-feira, 24 de março de 2017

Uma Duas - Eliane Brum (2011)

Livro escolhido para a leitura do blog: Editora LeYa, 176 páginas.



Laura e sua mãe têm uma relação extremamente complicada, é uma mistura de amor com muito ódio. A ligação entre as duas é tão forte que elas sentem que dividem seus próprios corpos.
Um dia, a mãe sofre uma fatalidade enquanto está sozinha em seu apartamento e Laura é chamada para cuidar dela após semanas sem se verem ou se falarem. O estado deplorável em que a mãe se encontra é grave, então a filha é obrigada a se mudar para o apartamento da enferma, gerando incômodo entre as duas.
Laura é uma jornalista de sucesso mas é infeliz, e para extravasar sua raiva, escreve no seu computador todos os seus sentimentos e pensamentos sobre a vida e a mãe. E esta, sabendo que a filha escreve muito sobre a relação das duas e sabendo o que se passa na cabeça de Laura, começa a escrever também a sua história em um caderno para poder contar ao leitor a sua versão sobre o relacionamento tóxico entre elas.  
As duas culpam uma à outra todas as infelicidades pelas quais passaram. Laura sempre acha que a mãe faz de tudo para a infernizar e atingir, enquanto Maria Lúcia, a mãe, acredita que tudo que a filha faz é para tentar lhe torturar. Elas são muito fechadas e caladas, então a luta entre as duas é travada através de atitudes, olhares e gestos. Sem palavras, porém intensa.

O livro possui três narradoras, e cada uma possui uma fonte diferente para que o leitor identifique quem está contando a história. As narradoras são a mãe, a filha e a narradora da história de Laura, invisível mas onipresente.

Eliane Brum é uma jornalista, escritora e documentarista brasileira. Uma Duas é a estreia da autora como escritora de romance. Ela já tem uma enorme bagagem de prêmios (mais de 40), entre os quais os mais importantes do Brasil como Jabuti, Esso, Vladimir Herzog, Ayrton Senna, Ethos, Líbero Badaró e Sociedade Interamericana de Imprensa.

Laís: Esse livro me deu insônia. Um relacionamento conturbado entre uma mãe e uma filha que me incomodou de diversas formas. Laura é maluca de mais pro meu gosto, dá muita vontade de xingá-la e falar pra ela ter mais coração. Maria Lucia me trouxe estranhamento como mãe, mas pena ao mesmo tempo. Tinha horas que eu achava o comportamento dela quase compreensível. Tive um pouco de compaixão por ela.
A narrativa é intensa, toca em lugares profundos da gente. A autora traz algumas referências bem legais, como A Noviça Rebelde e Harry Potter. A mudança de fonte para determinar o narrador é um artifício bem legal usado pela autora.  
Ainda não sei se gostei do livro ou não, sinto uma mistura “muito bom!” com desprezo pela amargura da história. Mas com certeza é uma situação que outras mães e filhas passam. O livro pode ser uma experiência ainda pior para outras pessoas com esse problema.
Nota: 3

Luiza: Mesmo com linguagem simples, deixando a leitura ser fácil e rápida, a história é densa e forte. Dá muito, muito nojo dos personagens desde o início do livro, sem exageros.
Laura é uma jornalista de meia-idade bem sucedida, mas dava a impressão de que isso é um engano pois ela não escreve tão bem e tem comportamento no mínimo duvidoso. Já a Maria Lúcia, uma senhora de uns 70 anos, passou anos sem escrever qualquer linha que a fizesse pensar, mas escreve quase poeticamente, foi mais “legal” ler as partes dela. Apesar do nojo, a mãe às vezes me dava pena, mas a filha só me fazia sentir asco. É um livro que foi feito para cutucar e incomodar, acredito que foi um dos mais perturbadores que já li.
O livro me fez sentir ainda mais falta dos meus pais, pois enquanto lia, me fez ficar ainda mais grata por não serem iguais aos do livro. Fico tentando imaginar qual seria a opinião das pessoas que tem relacionamento tão complexo com algum dos pais quanto as protagonistas.
Assim como a Laís, também não sei dizer se gostei do livro. Tive tantas emoções negativas quanto à personalidade da mãe e da filha que me fez ficar em dúvida, mas tenho certeza de que a leitura valeu a experiência.
Nota: 3

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