quarta-feira, 8 de março de 2017

A Cor Púrpura - Alice Walker (1982)

Livro escolhido para a leitura do blog: Editora José Olympio, 334 páginas.
Edição de 2016.




Numa época em que a segregação racial está forte nos Estados Unidos, Celie, uma menina de catorze anos, negra, pobre e sem instrução escolar, passa por muitos momentos tristes. Ela sobreviveu à perda da mãe, ao pai que a estuprava e que roubou seus filhos, e a um marido que batia nela para mostrar quem é que mandava na relação.
Seu pai, cansado de tê-la por perto, dá sua mão em casamento para um rapaz que ela mal conhece. Ela se vê forçada a se tornar uma dona de casa submissa, pois era o único jeito que ela encontrou para sobreviver. Ela tem que cuidar dos filhos de seu marido, arrumar a casa e trabalhar duro na roça enquanto os homens não fazem quase nada.
Um dia, uma cantora linda chamada Shug Avery, uma mulher negra cheia de vida e antiga paixão de Sinhô _____ (é exatamente assim que Celie se refere a seu marido em suas cartas para Deus e Nettie) aparece na casa do casal a convite do marido, pois estava muito doente. Apesar de Celie tê-la recebido super bem e cuidado para que ela melhorasse logo, Shug, inicialmente a maltrata. A reputação de Shug (língua afiada e não se submete aos outros) é duvidosa e ela não causa boas primeiras impressões aos leitores, mas, com as cartas de Celie, compreendemos que ela tem um coração bondoso.
Shug e Sinhô _____ vivem como amantes sem se importarem com os sentimentos de Celie, mas as duas acabam virando grandes amigas, fazendo a protagonista descobrir aos poucos um mundo totalmente novo e, acima de tudo, ela começa a se conhecer muito melhor ao ser apresentada a novas formas de ver a vida, ao próprio corpo e à mulher que ela é.
Nettie, irmã mais nova de Celie, é muito inteligente e sai de casa para arrumar um trabalho como forma de se desenvolver e de fugir do pai que a estava procurando com segundas intenções depois de Celie ter ido embora. Mas as duas perdem contato e Nettie acaba indo conhecer o mundo junto com uma família missionária, e, através de cartas para Celie, ela nos conta seu dia a dia, principalmente o tempo que estava passando na África na companhia dos Olinka, uma tribo onde ela estava trabalhando e estudando.

As cartas escritas por Nettie e Celie são os únicos meios em que é nos contada a história. Por não ser alfabetizada, as cartas de Celie são escritas da forma que ela fala e com muitos erros de ortografia, enquanto as de Nettie são escritas corretamente. A narrativa mostra de forma muito realista e crua os preconceitos e maus tratos que os negros, principalmente as mulheres, recebiam nas primeiras décadas de 1900. Indo muito além, a autora usa a bíblia e a cultura americana e africana para fazer análises em relação aos negros e brancos, dissecando e expondo que tanto os negros quanto os brancos têm uma visão perturbadora das pessoas consideradas inferiores devido à cor da pele e gênero.

Após a sua publicação, A Cor Púrpura instigou muitos debates sobre a representação cultural negra, pois críticos afro-americanos masculinos haviam se queixado que o romance reafirmou antigos estereótipos racistas sobre comunidades negras e sobre homens negros em particular. Os críticos também acusaram a autora de se concentrar fortemente no sexismo à custa de abordar noções de racismo na América. No entanto, A Cor Púrpura também teve seus defensores fervorosos, especialmente mulheres negras, que elogiaram o romance como uma fábula feminista. As disputas acirradas que cercam o livro são testemunha dos efeitos estrondosos que o trabalho teve no discurso cultural e racial nos Estados Unidos.

Nossas opiniões:

Laís: Depois de muita reflexão, entendi que esse livro é um livro feliz. Celie é uma das personagens que conheço que mais evoluiu durante uma história. Quando Shug entra em sua vida, ela ensina Celie a ser uma mulher mais forte e independente. Celie começa a se sentir bonita, valorizada e autoconfiante. Eu sei que Alice Walker aborda várias questões racistas pelas quais passamos até hoje, mas independente do contexto, a história de Celie nos mostra porque comemoramos o dia de hoje (8 de março).
No início da leitura, eu não estava entendendo nada. Tive que reler as primeiras cartas depois que me toquei o que realmente estava acontecendo.
A compreensão de Deus que Celie tem é uma parte do livro que gostei muito. (Independente do que é e o do motivo pelo qual gostei, não tem nada a ver com discussão religiosa)
Aprendi muito com esse livro. São muitas questões abordadas, como racismo, sexo, papel de gênero, Deus. Alice Walker nos faz refletir muito sobre todos esses assuntos durante e depois da leitura.  Aconselho todos a lerem e tirarem suas próprias conclusões. Vale muito a pena! Mais um livro me transformando e me deixando sem palavras.
Nota: 5/5

Luiza: As primeiras cartas do livro são da Celie, então, quando comecei a ler, estranhei bastante a linguagem pois me pegou de surpresa e fiquei confusa. Depois das primeiras cartas, acostumei e comecei a achar muito interessante o uso da linguagem falada e cheia de erros. O livro tornou-se ainda mais realista. E não foi só isso que me pegou de surpresa tão logo que iniciei a leitura: a primeira carta de Celie é pequena e já é impactante e foi capaz de mexer comigo.
Muitas questões são abordadas em A Cor Púrpura e a forma em que todas elas foram abordadas foram ótimas! Fiquei feliz em ver que o que eu penso sobre religião é o mesmo que Shug.
A obra é forte, os personagens femininos são fortes, e se não eram fortes antes, tornaram-se. Eu queria aplaudir elas enquanto lia, torcia muito, muito por elas. E fiquei orgulhosa de cada uma delas. Para mim, a autora não só mostrou a realidade, como também mostrou que todas as mulheres, inclusive aquelas que estão sem esperança e desacreditadas em relação a si mesmas e possuem auto estima baixa, podem se levantar e se tornarem mulheres exemplares de força, garra e fibra. Tudo foi MA-RA-VI-LHO-SO. Dá vontade de esfregar o livro na cara de pessoas que são cegas em relação ao machismo e que tem a visão muito errada do feminismo. Amei, amei. Como dizem por aí: lacrou!!
Nota: 5/5

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