A Sangue Frio - Truman Capote (1980)

Livro escolhido para a leitura do blog: Editora Abril Cultural, 412 páginas

Em Holcomb, uma cidadezinha americana de uns 200 habitantes do interior de Kansas, Estados Unidos, ocorrem quatro brutais assassinatos na noite de 15 de novembro de 1959. Dois criminosos frustrados, Richard Eugene Hickock (Dick) e Perry Edward Smith, entram na casa dos Clutter e matam quatro membros da família a sangue frio e sem motivo aparente.

Truman Capote relata detalhadamente o ocorrido nesta obra jornalística de forma surpreendente, expondo claramente a personalidade de cada personagem e permanecendo-se quase imparcial. A princípio, Capote não tinha nenhum envolvimento com as personagens dessa história, até que começa a fazer as extensas pesquisas e entrevistas com as pessoas que poderiam saber mais sobre o caso, como aconteceu com Perry Smith.

Perry Smith conta a Capote muitos detalhes do acontecido, o que o ajuda a encorpar as partes faltantes dessa espetacular obra. Apesar de que em alguns momentos a história parece ser arrastante, ela é muito eletrizante, chocante e atraente. Dá para ler muita coisa nas “entrelinhas” e a obra levanta muitas questões que até os dias de hoje são assuntos polêmicos, como o que pode ser considerado julgamentos e sentenças justas (pena de morte e prisão perpétua, no caso), e sobre como sempre julgamos as pessoas sem ao menos a conhecermos direito.

Todos da família Clutter eram considerados pelos seus conhecidos como pessoas muito boas, generosas, inteligentes, trabalhadoras e conservadoras. Eles eram uma família que se tornou rica e morava na River Valley Farm, uma fazenda linda e muito bem cuidada e administrada com carinho pelo Sr. Herb Clutter. Bonnie, sua esposa, era uma mulher triste que vivia com uma doença que ninguém na época sabia o que era, a depressão, e dormia muitas horas do dia. O casal tinha três filhas, Eveanna, Beverly, Nancy e um filho caçula Kenyon. Eveanna já estava casada e morava em outra cidade, Beverly estava noiva e também morava em outra cidade. Já Nancy e Kenyon, ainda adolescentes, moravam com os pais. Nancy era prestativa e alegre e, mesmo cheia de tarefas para fazer, conseguia ter tempo de cumprir todas, orgulhosamente. Kenyon era o filho mais quieto, na dele, e estava sempre fazendo suas tarefas. Nancy e Kenyon, mesmo cheios de coisas para fazer, sempre arrumavam tempo para se divertirem.

Perry Smith sentia ódio e desprezo pela própria família por ter sido negligenciado a vida inteira e por não ter recebido as boas instruções da educação que ele achava que merecia. Assim, começou a cometer crimes e a sentir ódio da maioria das pessoas com quem conviveu desde então. Se a pessoa tinha boa instrução, ele tinha inveja. Era uma pessoa sensível, tinha sonhos e talentos; mas quando queria, era muito mau. Tinha vergonha das suas pernas e não gostava que rissem dele.
    Dick Hickock era um homem considerado bonitão que veio de uma família de classe média rigorosa, mas cheia de preocupação com os filhos. Era um ladrão que queria dinheiro fácil, se importava muito em conseguir mulheres para sua cama, e tinha desprezo por todos que não fosse seus pais, irmão e ex-esposa.

Capote conseguiu transformar uma curta notícia que ele viu em um jornal em uma investigação completa, que envolve não só analisar o crime, como também estudar as pessoas que estavam envolvidas na história. A obra lançou um novo modelo de escrita, o jornalismo literário/“romance não-ficção”, e quando ela foi finalizada e lançada em forma de livro em 1966, Truman continuou a escrever contos e redações jornalísticas, mas nunca mais conseguiu se aventurar a escrever algo tão extenso, pois seu tempo com Perry Smith o atingiu de tal forma que ele nunca mais continuou o mesmo.

A escritora do famoso livro “O Sol é Para Todos”, Harper Lee, foi uma grande amiga de Capote desde a infância; ela o acompanhou e ajudou a estabelecer contatos em Holcomb e a desenvolver a história deste crime. Esses fatos me surpreenderam muito, pois sou completamente apaixonada pelo livro “O Sol é Para Todos”, achei tão fantástico ficar sabendo disso que quis compartilhar na resenha.

“Confidencial”  e “Capote” são os filmes que retratam a história de Capote durante o seu tempo de escrita de “A Sangue Frio”; ainda não vi, mas disseram que são muito bons.

A obra “A Sangue Frio” é excelente e recomendo muito! Além de ter me feito pensar em muitas coisas, fiquei maravilhada com o relato de Truman Capote, foi delicioso de ler. O autor também escreveu a famosíssima obra “Bonequinha de Luxo”, mas não acho que esta obra chegue aos pés de “A Sangue Frio”.
    Nota: 5/5

Luiza Côrtes

Trailer de "Confidencial"