domingo, 10 de abril de 2016

Capitães da Areia - Jorge Amado (1937)

Livro escolhido para a leitura do blog: Editora Companhia de Bolso, 288 páginas




“...a liberdade era o sentimento mais arraigado nos corações dos Capitães da Areia…”



No ano de seu primeiro lançamento, 1937, época do Estado Novo, os exemplares da obra Capitães da Areia foram censurados e depois queimados em praça pública de Salvador por ser um livro que critica a sociedade pela forma que trata os pobres. O impacto causado pela obra foi tão grande que o fato de ter sido proibida é capaz de aumentar ainda mais a curiosidade dos leitores.
Capitães da Areia é um romance modernista, pertencendo à segunda fase do Modernismo no Brasil (1930-1945), também conhecida como Romance de 30 ou fase Neorrealista, pois a narrativa está vinculada às transformações políticas, sociais e econômicas do período.  Com essa obra, Jorge Amado foi o primeiro da história da literatura brasileira a denunciar de maneira panfletária a realidade dos problemas enfrentados pelos menores abandonados e menores infratores que  desafiavam a polícia e a própria sociedade para poderem sobreviver. O autor conseguiu escrever um romance que minimiza os delitos dos meninos para acentuar os defeitos da sociedade, da polícia e da Igreja Católica.


Um trapiche de uma praia de Salvador, abandonado pela sociedade e caindo aos pedaços, é a residência de um enorme grupo de meninos abandonados que são chamados de Capitães da Areia. É um grupo muito famoso na Bahia devido às confusões que aprontam contra a sociedade da capital baiana através de muitos furtos praticados no dia-a-dia..
Toda a sociedade quer prender esses meninos considerados malditos e levá-los ao reformatório para poderem se endireitar e se tornar seres humanos honestos e trabalhadores. Porém, não conseguem fazer nada disso, pois o grupo de meninos é esperto, ligeiro e discreto.
Cada um dos Capitães da Areia possui uma personalidade única, sendo que os principais são o chefe determinado Pedro-Bala, o pintor intelectual, Professor, o enorme e meio lerdo João-Grande, o cantor Boa-Vida, o coxo cheio de rancor Sem-Pernas, o religioso Pirulito, o aspirante a cangaceiro Volta Seca e o vigarista elegante Gato. Todos esses são amigos que organizam e colocam ordem nesse grupo inteiro de aproximadamente cem meninos com idades que variam de 7 a 16 anos. Apesar de cada um deles ter uma personalidade diferente e possuir sonhos diferentes, são crianças que, por causa da vida na rua, começaram a amar a liberdade acima de tudo. Eles têm em comum o desejo de um dia receberem carinho e se sentirem confortáveis em uma família que os amassem como são para compensar a falta de um pai e uma mãe durante a infância.
A sociedade os tratam como se já fossem homens. Assim, os Capitães da Areia conhecem a vida como se já fossem adultos, pois perderam a infância. Bebem como homens, comem como homens, agem como homens, transam como homens, arquitetam planos de invasão e roubo em casas ricas como homens.
    O climáx da história é atingido quando o grupo conhece Dora, uma menina de rua de 14 anos que perdeu os pais, e todos os Capitães da Areia começam a olhá-la de uma forma que lhes dá a sensação de família, conforto e carinho como irmãos ou mãe/filhos, sempre os apoiando e mostrando que acredita que os sonhos de cada um deles um dia vai realizar. Começam a admirá-la a ponto de compará-la com mulheres fortes e revolucionárias como Rosa Palmeirão e Maria Cabaçu, mulheres que mudaram o destino de muitos pobres. Dora aprende com os meninos a roubar, assaltar, lutar e ser a mulher que ela mesma gostaria de ser.


Toda a obra possui a narrativa simples e fluida, mostrando as nuances dos sentimentos e pensamentos de cada um dos principais do livro. Apesar de serem personagens de rua que lutam para sobreviver através de furtos rotineiros, o livro torna muito fácil nos colocarmos no lugar dos Capitães da Areia, entendendo os meninos pobres de rua. Começamos a torcer por eles; dá para sentir a compaixão aumentando a cada página.
  É uma obra que, apesar de ter sido escrita há tantos anos, permanece muito atual. Capaz de abrir os olhos dos leitores para algumas questões sociais e políticas, nos fazendo tomar consciência de que temos necessidade em saber o outro lado da história que quase nunca é mencionada. Nota: ⅘.


Curiosidade:
“Para escrever Capitães da Areia, Jorge Amado foi dormir no trapiche com os meninos. Isso ajuda a explicar a riqueza de detalhes, o olhar de dentro e a empatia que estão presentes na história.” - Zélia Gattai Amado, esposa do autor.

Luiza Côrtes

Nenhum comentário:

Postar um comentário